Explicação de Lucas 7:36-50: a parábola dos dois devedores

A parábola dos Dois Devedores encontra-se no evangelho de Lucas 7:36-50. Através dessa pequena ilustração podemos aprender lições importantes sobre o Reino de Deus. Ela ajuda-nos a entender que:

  1. somos todos devedores (pecadores), necessitados do perdão de Deus.
  2. gratidão é importante. Precisamos reconhecer a grandeza do perdão que recebemos de Cristo e glorificá-lo por essa dádiva.
  3. devemos estar conscientes do quanto falhamos e do quanto precisamos do Senhor, que nos perdoa.
  4. Jesus não rejeita a nenhuma pessoa que se aproxima dele com humildade e arrependimento.
  5. que não devemos julgar a ninguém como sendo piores ou mais pecadores que nós.

De fato, podemos extrair muitas outras lições dessa parábola bíblica. Mas para compreendermos melhor o que Jesus ensinou, é fundamental entender qual foi o contexto em que Ele contou essa história.

Contexto da Parábola dos Dois Devedores

A pequena parábola dos Dois Devedores foi contada numa ocasião em que Jesus estava na casa de um fariseu. Simão O tinha convidado para uma refeição em sua casa. Talvez convidou a Jesus por curiosidade, pela sua fama, ou simplesmente para ouvi-Lo e argumentarem num debate amistoso, como faziam os mestres da Lei na época.

É provável que banquetes daquela natureza fossem relativamente públicos e que algumas pessoas entrassem para ouvir os diálogos e ensinamentos dos mestres. Conforme o costume da época, Jesus estaria reclinado sobre a mesa com as pernas dobradas para trás. Também era costume que o anfitrião recebesse os convidados com uma saudação afetuosa (beijo na face), com água para lavar os pés e com óleo para unção da cabeça. Mas, Simão não ofereceu isso a Jesus.

A Bíblia diz que certa mulher pecadora apareceu no mesmo lugar. Tinha um vaso de alabastro com perfume raro, aproximando-se dos pés de Jesus, chorava e beijava-lhe os pés, secando-os com os seus cabelos. Além das lágrimas, derramou o óleo nos seus pés, em humilde adoração. Tal atitude impressionou o anfitrião, que julgou a Jesus em seu coração: se Ele fosse de fato um profeta, saberia quem era aquela mulher pecadora e não lhe permitiriam que se aproximasse nem que nem lhe tocasse.

Veja mais sobre o que é um vaso de alabrastro.

Simão julgou tanto a mulher quanto a Jesus por permitir que uma pecadora estivesse perto e lhe demonstrasse afeição. Mas, Jesus, conhecendo o que ia em seu coração, propôs-lhe a parábola:

"Dois homens deviam a certo credor. Um lhe devia quinhentos denários e o outro, cinquenta.
Nenhum dos dois tinha com que lhe pagar, por isso perdoou a dívida a ambos. Qual deles o amará mais?"
Simão respondeu: "Suponho que aquele a quem foi perdoada a dívida maior".
"Você julgou bem", disse Jesus.
- Lucas 7:41-43

Propósito da Parábola dos Dois Devedores

A intenção de Jesus ao contar essa história, parece que era revelar-se discretamente como Senhor, plenamente divino. Ele recebe adoração, conhece os corações, salva e perdoa os pecados. Além disso, revela a Simão a importância de se reconhecer como pecador, necessitado da graça e perdão. Tanto o que devia muito quanto o que devia pouco, eram devedores. O que devia mais deverá ser mais grato, pelo reconhecimento da misericórdia e do perdão recebidos. Mas, ambos foram perdoados pelo credor. E, por terem sido perdoados, deveriam amar mais (ser mais gratos) ao credor.

Simão já se considerava justo diante de Deus e dos homens. Por isso não demonstrou gratidão, reverência ou louvor a Jesus. Mas a mulher, ciente dos seus muitos pecados e que Cristo lhe poderia resgatar, demonstrou arrependimento, rendição, humilhação e total entrega ao Senhor Jesus. Assim, aproveitando o exemplo prático e correto da mulher, Jesus contou a parábola.

Veja também: o que a Bíblia diz sobre gratidão.

Contraste de atitudes

Por um lado temos Simão, um homem com uma reputação louvável, estudioso e defensor da Lei de Deus. Provavelmente, era estimado pela comunidade com um comportamento irrepreensível. Como fariseu, tinha uma conduta exemplar e possuía um elevado "status" pela sua conduta religiosa.

Do outro lado temos a mulher, sem identidade, uma simples pecadora com a qual todos nós podemos nos identificar. Naturalmente, por causa da sua má fama, era apontada e desprezada pela comunidade como uma pessoa impura, indigna e desprezível.

Jesus coloca os dois no mesmo "pacote": ambos são pecadores e não podem pagar pelas suas dívidas perante Deus. A diferença é que um se apoiava na sua justiça própria (Isaías 64:6), enquanto a outra reconhecia o quanto precisava da graça e perdão.

- A mulher pecadora

A Bíblia não fala quem ela era nem qual era o seu pecado, apenas realça a atitude louvável que teve perante o Senhor. Ela:

  • Creu em Jesus e foi ao seu encontro.
  • Não mediu esforços para encontrá-lo (certamente não era bem-vinda na casa de um religioso, como Simão).
  • Reconheceu a excelência de Cristo (divindade e senhorio de Jesus acima dos mestres da Lei e profetas).
  • Entendeu a graça, misericórdia e perdão de Jesus, por isso se prostra aos Seus pés.
  • Demonstrou um coração arrependido, derramando as suas lágrimas perante o Senhor.
  • Foi humilde e humilhou-se perante Jesus, diante de muitos olhos condenadores.
  • Revelou gratidão e adoração, prostrando-se de joelhos e beijando os Seus pés.
  • Entregou algo valiosíssimo aos pés de Jesus, derramando e ungindo-lhe com perfume.

- Simão, o fariseu

Esse homem era um dedicado estudioso da Lei e queria fazer um teste com Jesus. Certamente, ele tinha ouvido falar de Jesus, dos Seus muitos milagres e ensinamentos, por isso queria certificar-se dessas coisas. Simão queria conhecer um pouco mais e até teve uma atitude simpática ao convidar Jesus para uma refeição em sua casa.

Mas isso não era suficiente. Muito mais que ser reconhecido como mestre ou profeta, Jesus deveria ter sido recebido com todas as honras de costume e muito mais. Ele dava provas de ser plenamente humano e plenamente divino, é o Filho de Deus e Senhor dos Senhores. Mas as atitudes de Simão revelam que ele:

  • Não acreditava em Jesus.
  • Queria testar Jesus e demonstrou ter já um preconceito a respeito dele.
  • Não ofereceu as cortesias mínimas a Jesus e não lhe deu a atenção devida de um convidado de honra.
  • Não reconhecia que Jesus era o Messias, Filho de Deus, a quem devesse o verdadeiro amor e reverência. Muitos judeus ainda não criam em Jesus como o Senhor digno de gratidão e adoração pela sua divindade.
  • Não reconhecia a si mesmo como um pecador, carente do perdão de Deus.
  • Colocou-se numa posição elevada, como juiz, julgando a um e outro
  • Julgou a Jesus, internamente, por não ter repelido uma mulher pecadora.
  • Julgou-se superior e melhor que a mulher.
  • Demonstrou ingratidão diante do Senhor Jesus, não O honrando como merecia.

Veja também: quem eram os fariseus.

Lições acerca da passagem bíblica

Através do evento na casa de Simão e da Parábola dos Dois Devedores podemos refletir sobre perdão, gratidão e autoconhecimento. Certamente, tudo isso faz muito sentido nos nossos dias, pois pensamos pouco acerca do problema do pecado e sobre a graça do perdão de Deus. Muitas vezes, não estamos conscientes do quanto fomos perdoados por Deus. Por isso, essa história pode funcionar como um exemplo importante para aprendermos com Jesus o valor desse reconhecimento e sermos mais gratos a Ele.

Veja o que mais podemos aprender com essa história:

  • Todos somos devedores perdoados por Deus (tanto o que tem consciência dos seus muitos pecados, quanto aquele que se julga pouco devedor)
  • Ter consciência que pecamos e não podemos pagar pelos nossos pecados (autojustificação é insuficiente)
  • Deus perdoa todos os pecados de pessoas arrependidas
  • Jesus não limita a aproximação de ninguém, por mais pecador que seja
  • As impurezas dos pecadores não O contaminam, Jesus é que purifica a pessoa de seus pecados
  • Quem tem consciência dos seus pecados consegue ser mais grato a Deus
  • Todos somos indignos do amor de Deus, por mais que façamos "coisas boas", é pela Sua maravilhosa graça que somos perdoados
  • A Graça de Deus alcança e perdoa todo tipo de pecado
  • O moralismo e legalismo (prática farisaica) contrastam com a humildade e entrega (atitude da mulher)
  • Nós e os pecadores que julgamos piores que nós, somos igualmente pecadores perdoados por Deus
  • Recebemos o perdão de Deus, devemos também ser misericordiosos e demonstrar amor a outros pecadores.
  • Ter a atitude certa de glorificar e adorar a Deus pelo seu perdão e graça ao nosso favor.

Reflita sobre isso: você já tem uma ideia fixa e preconcebida de quem é Jesus? Como Simão, quer apenas confirmar que Jesus é um simples mestre de moral? Reconhece que Jesus é o Messias, o grande Salvador e Deus Perdoador de pecados? Consegue se enxergar como um grande pecador, carente do perdão de Deus? Rotula outras pessoas como pecadores (mais que a você próprio)? Se afasta de pessoas falhas para evitar se deixar contaminar pela proximidade delas? Ou tenta influenciá-las com o amor de Deus?

Leia mais: O perdão de Deus: por que Deus nos perdoa? Entenda também: O que é a Graça?

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